segunda-feira, 31 de outubro de 2011

APRESENTAÇÃO DO LIVRO BOM JESUS DA CANA VERDE

OS CONFLITOS QUE OCORRERAM AO REDOR DA IMAGEM DO SENHOR BOM JESUS DA CANA VERDE, NA REGIÃO NORTE DO PARANÁ, SERÃO APRESENTADOS PELO AUTOR ANDERSON LINO, NA CIDADE DE CURITIBA, PARANÁ, NO SHOPPING ESTAÇÃO, NAS LIVRARIAS CURITIBA, ÀS 19HS E 30MIN, NO DIA 10 DE NOVEMBRO DE 2011(QUINTA-FEIRA). O AUTOR IRÁ ABORDAR A DISPUTA SIMBÓLICA NA DÉCADA DE 1930 COM BASE NO DESENVOLVIMENTO E NAS NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS, ECONÔMICAS E CULTURAIS DO "UNIVERSO" RURAL PARANAENSE. ASSIM COMO A HISTÓRIA INVENTADA, IMAGINÁRIA E VIGIADA PELOS DONOS DO PODER MATERIAL E SIMBÓLICO. CONSIDERADA COMO UMA DAS MAIORES FESTAS RELIGIOSAS E POPULARES DO ESTADO PARANAENSE E DO BRASIL, O LIVRO DO AUTOR RECEBEU DA CÂMARA MUNICIPAL DO MUNICÍPIO DE SIQUEIRA CAMPOS, ONDE SE ENCONTRA A IMAGEM DO BOM JESUS DA CANA VERDE, O PRÊMIO DE MOÇÃO DE CONGRATULAÇÃO.

JEFERSON RODRIGO BAZILISTA (HISTORIADOR, ESCRITOR E PROFESSOR DO ESTADO DE SÃO PAULO)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O invejoso

Professor conta história da babilônia para lembrar ataques da velha imprensa
A inveja dos tolos e fanáticos da grande imprensa no Brasil me faz lembrar Arimaze com seu ódio e espírito aborrecido. Na Babilônia explodiu uma grande querela acerca da lei de Zoroastro que proibia comer grifo. — Como proibir carne de grifo — diziam uns, — se esse animal não existe? — Tem de existir — diziam outros, — visto que Zoroastro não quer que o comam. Zadig procurou harmonizá-los, dizendo: — Se houver grifos, não os devemos comer; se não os houver, muito menos os comeremos; e assim, de qualquer modo, obedecemos todos a Zoroastro. — Exclamou Zadig. — “Tudo me persegue neste mundo até os seres que não existem”. E amaldiçoou os sábios. Defronte à sua casa morava Arimaze, personagem que vivia corroído de fel e inchado de orgulho. Não tendo jamais alcançado sucesso na sociedade, vingava-se falando mal dela.
O Invejoso foi ter com Zadig, que passeava no jardim em companhia de dois amigos e uma dama. Conversavam sobre a guerra que o rei acabava de ganhar ao príncipe de Hircânia, seu vassalo. Zadig, que se assinalara, pela coragem, nessa curta guerra, louvava muito o rei e ainda mais a dama. Tomou as suas tabuinhas, e escreveu quatro versos de improviso, dando-os a ler à sua bela companheira. Entretanto, estas foram rompidas de tal modo que cada metade de linha formava sentido e até mesmo um verso de menor medida; mas, por um acaso ainda mais estranho, o conjunto desses quatro pequenos versos também completava um sentido que continha as mais terríveis injúrias contra o rei,
Lia-se, pois:
Pelo crime brutal
Venceu o soberano
Na paz universal
É o único tirano.
O invejoso sentiu-se feliz pela primeira vez na vida. Cheio de cruel alegria, fez chegar ao rei aquela sátira escrita por mão de Zadig; puseram-no em prisão. Não lhe permitiram que falasse, porque as suas tábuas falavam o bastante. Três quartos de seus bens eram confiscados em proveito do rei, e o último quarto em proveito do invejoso. Enquanto ele se preparava para a morte, o papagaio do rei voou do seu balcão e foi pousar no jardim de Zadig, sobre uma moita de rosas. De uma árvore vizinha, tombara ali um pêssego, sacudido pelo vento, indo aplastar-se contra um pedaço de tábua de escrever, a que ficara colado. O pássaro carregou o pêssego e a tabuinha, depondo-os sobre os joelho do monarca. A rainha, que se lembrava do que vinha escrito na tábua de Zadig, mandou buscá-la. Confrontaram os dois pedaços, que se ajustavam perfeitamente surgiram tão os versos tais quais Zadig os escrevera:
Pelo crime brutal era assolada a terra
Venceu o soberano, e libertos nos vimos
Na paz universal somente o amor faz guerra
É o único tirano a quem não resistimos.
O rei ordenou em seguida que trouxessem Zadig à sua presença. Deram-lhe todos os bens do invejoso que o acusara injustamente, mas Zadig lhos restituiu, e o invejoso só se comoveu com o prazer de não perder seus haveres.
* Anderson Lino é historiador e professor da rede pública estadual em São Bernardo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Professor de São Bernardo obtém mestrado e publica livro sobre os conflitos e celebrações em torno de uma imagem religiosa

Os conflitos provocados no norte do Paraná a partir de uma imagem sacra foram o tema da dissertação de mestrado do professor Anderson Lino, que agora foi editada em livro. "A História do Senhor Bom Jesus da Cana Verde: Conflitos e Celebrações em Torno de uma Imagem Religiosa" foi o alvo da pesquisa desenvolvida em 2009.

O mestrado e o livro abordam os conflitos que ocorreram no espaço geográfico denominado Norte Pioneiro durante mais de um século, entre os anos de 1886-2008. A imagem do Bom Jesus, de propriedade da família Pinto, foi expropriada pelo vigário da paróquia de Salto do Itararé, padre Alfredo Simon, que reuniu cerca de vinte homens armados para capturá-la.

Nesse conflito religioso, que ocorreu em abril de 1933 na Matriz de Siqueira Campos, duas pessoas foram mortas: o comerciante do Arraial dos Pintos, João Moreira, e o herdeiro do Bom Jesus, José Pinto de Oliveira. Ao redor da imagem foi sendo construída a história oficial, sempre 'vigiada' pelos donos do poder local, mantenedores da ordem e da tradição.
O pesquisador abordou a história do Bom Jesus sob uma
concepção mais ampla, já que na esfera religiosa ocorria um fenômeno denominado de 'romanização', ou seja, a Igreja Católica seguia o Código de Direito Canônico de 1917, não reconhecendo o Código de Direito Civil do Estado Nacional Brasileiro.

Anderson Lino relata, no livro de 156 páginas, diversos episódios da época. Na esfera política, por exemplo, o governo paranaense colocou em prática o sistema de terras devolutas. No setor dos transportes, a estrada de ferro RVPRSC (Rede Viária Paraná / Santa Catarina) já se encontrava na região desde 1919. Neste momento, as novas relações sócio-culturais e econômicas foram introduzidas no campo, onde se estabeleceu o capitalismo agrário.

Vale destacar ainda que a questão social no estado do Paraná, nas primeiras décadas do século XX, foi bastante tumultuada, com denúncias de chacinas contra indígenas e violência contra cablocos e sertanejos.
"Os fatores religiosos, políticos e ideológicos tiveram lugar de peso na abordagem da história do Bom Jesus", explica o pesquisador, que acredita que a religiosidade popular no Brasil foi moldada pelas diferenças regionais. Alvo da pesquisa, o Norte do Paraná, por exemplo, teve mudanças profundas em sua comunidade religiosa, provocadas pelo conflitos do Bom Jesus.

"Após a expropriação da imagem, os cultos e rituais em torno da imagem ficaram sob o olhar institucional dos vigários locais. Nos núcleos urbanos, as irmandades religiosas também estavam cada vez mais controladas pelo poder oficial do clero católico", conclui Anderson Lino.
Ente as fontes de pesquisa da dissertação estão um filme contando a história do Bom Jesus e também um documentário sobre a festa do Santo, produzido em 1967. A pesquisa deu ao professor o título de Mestre em Ciências da Religião.

O Livro do autor - Bom Jesus da Cana Verde: Conflitos e Celebrações (Norte do Paraná, 1886-2008) pode ser adquirido nas Livrarias Curitiba, ou pelo site: www.livrariascuritiba.com.br

sábado, 7 de agosto de 2010

Educação e Filosofia

Os responsáveis pela falência do sistema educacional em São Paulo se esqueceram de que Educação e Filosofia são dois lados da mesma moeda

A reforma no sistema educacional do Estado de São Paulo com base em avaliações, cobranças e resultados que responsabilizam diretores, professores e alunos foi copiada do governo W. Bush dos EUA. Entretanto, conforme relatou a ex-secretária-adjunta de Educação daquele país, Diane Ravitch, ao jornal O Estado de São Paulo, “nota mais alta não é educação melhor”. Diane foi a defensora da reforma educacional dos EUA e agora, em seu livro “A morte e a Vida do Grande Distema Escolar Americano”, mudou de ideia.

As pessoas responsáveis pela falência do sistema educacional em São Paulo se esqueceram de que Educação e Filosofia são dois lados da mesma moeda. Por isso, ao discutir Educação é preciso levar em consideração a fenomenologia – que trata daquilo que se manifesta na pessoa humana, e é tanto cultural quanto sentimental. Para o filósofo alemão Husserl, o ser humano é sujeito e objeto de suas ações. E a sua vivência é a sua experiência, sua percepção é a consciência de sua vivência. Destarte, a fenomenologia é tanto física quanto psíquica. Sua vivência é complexa.

O sentido explica essa vivência e a percepção daquilo que é físico, matéria e inorgânico, daquilo que é espírito, humano e orgânico. Para essa corrente de pensadores, o páthos (filling) é aquilo que nos dá sentido; e a intropatia é aquilo que entre nós nos faz sentirmos semelhantes. Nesse viés, há uma singularidade humana que não pode ser eliminada. A empatia é o reconhecimento da alteridade. Por outro lado, a simpatia e a antipatia são reações psíquicas da pessoa humana, isto é, a antipatia é o ódio, a eliminação do Outro. Aqui nasce a moral.

A intolerância leva ao estranhamento cultural, ao impedimento da semelhança humana. Assim, a escolha moral é o descentramento do sujeito. A identidade e a semelhança, entre grupos de pessoas que não nos dêem problemas, estão entre a simpatia e a antipatia, ou seja, é um reflexo psíquico. Se o sentido da palavra amor é fazer o bem para o Outro e criar condições para isso, os jesuítas, num certo momento, perceberam a essência humana dos guaranis. Nesse viés, o sistema educacional importando dos EUA resultou na eliminação do Outro, pois, têm objetivos políticos, econômicos e também psíquicos.

Aos professores e professoras cabe a responsabilidade de mostrar que é possível o reconhecimento dos valores culturais, e na relação com o ser humano não devemos eliminar o diferente. Para Cornelius Castoriadis, “o problema da condição contemporânea de nossa civilização moderna é que ela parou de questionar-se”. Na mesma linha de raciocínio, Zigmunt Bauman diz “que o preço do silêncio é pago na dura moeda corrente do sofrimento humano”. Desse modo, a Educação é um processo permanente de reflexão entre afeto e amor, e não de poder e competição entre escolas, professores e alunos por resultados e bônus que resultam na destruição da essência humana.

 *Anderson Lino é historiador e professor da rede pública estadual em São Bernardo.