segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Professor de São Bernardo obtém mestrado e publica livro sobre os conflitos e celebrações em torno de uma imagem religiosa

Os conflitos provocados no norte do Paraná a partir de uma imagem sacra foram o tema da dissertação de mestrado do professor Anderson Lino, que agora foi editada em livro. "A História do Senhor Bom Jesus da Cana Verde: Conflitos e Celebrações em Torno de uma Imagem Religiosa" foi o alvo da pesquisa desenvolvida em 2009.

O mestrado e o livro abordam os conflitos que ocorreram no espaço geográfico denominado Norte Pioneiro durante mais de um século, entre os anos de 1886-2008. A imagem do Bom Jesus, de propriedade da família Pinto, foi expropriada pelo vigário da paróquia de Salto do Itararé, padre Alfredo Simon, que reuniu cerca de vinte homens armados para capturá-la.

Nesse conflito religioso, que ocorreu em abril de 1933 na Matriz de Siqueira Campos, duas pessoas foram mortas: o comerciante do Arraial dos Pintos, João Moreira, e o herdeiro do Bom Jesus, José Pinto de Oliveira. Ao redor da imagem foi sendo construída a história oficial, sempre 'vigiada' pelos donos do poder local, mantenedores da ordem e da tradição.
O pesquisador abordou a história do Bom Jesus sob uma
concepção mais ampla, já que na esfera religiosa ocorria um fenômeno denominado de 'romanização', ou seja, a Igreja Católica seguia o Código de Direito Canônico de 1917, não reconhecendo o Código de Direito Civil do Estado Nacional Brasileiro.

Anderson Lino relata, no livro de 156 páginas, diversos episódios da época. Na esfera política, por exemplo, o governo paranaense colocou em prática o sistema de terras devolutas. No setor dos transportes, a estrada de ferro RVPRSC (Rede Viária Paraná / Santa Catarina) já se encontrava na região desde 1919. Neste momento, as novas relações sócio-culturais e econômicas foram introduzidas no campo, onde se estabeleceu o capitalismo agrário.

Vale destacar ainda que a questão social no estado do Paraná, nas primeiras décadas do século XX, foi bastante tumultuada, com denúncias de chacinas contra indígenas e violência contra cablocos e sertanejos.
"Os fatores religiosos, políticos e ideológicos tiveram lugar de peso na abordagem da história do Bom Jesus", explica o pesquisador, que acredita que a religiosidade popular no Brasil foi moldada pelas diferenças regionais. Alvo da pesquisa, o Norte do Paraná, por exemplo, teve mudanças profundas em sua comunidade religiosa, provocadas pelo conflitos do Bom Jesus.

"Após a expropriação da imagem, os cultos e rituais em torno da imagem ficaram sob o olhar institucional dos vigários locais. Nos núcleos urbanos, as irmandades religiosas também estavam cada vez mais controladas pelo poder oficial do clero católico", conclui Anderson Lino.
Ente as fontes de pesquisa da dissertação estão um filme contando a história do Bom Jesus e também um documentário sobre a festa do Santo, produzido em 1967. A pesquisa deu ao professor o título de Mestre em Ciências da Religião.

O Livro do autor - Bom Jesus da Cana Verde: Conflitos e Celebrações (Norte do Paraná, 1886-2008) pode ser adquirido nas Livrarias Curitiba, ou pelo site: www.livrariascuritiba.com.br

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